8/09/2021

Corpos

Inspira e se move, sobe os braços para abarcar o céu, levanta a cabeça e seus olhos ardem, pensa no sol iluminando seu rosto, aquecendo sua pele, abre os olhos e uma luz branca devolve à sua retina raios de luz artificiais. Retorna à realidade, aos sons dos carros lá fora, dos pássaros, dos alunos à sua volta, braços levantados em busca de um céu azul escondido por trás de andares e mais andares de cômodos povoados de seres que ignoram o azul, ignoram a luz, ignoram a si mesmos. 

Expira e os braços baixam. Olha à sua volta e vê o reflexo de seu movimento refletido em outros corpos. Pernas e braços que não são seus, mas que levantam quando ela os levanta, e baixam quando ela os abaixa. Por alguns segundos diverte-se com a ideia de que ela os comanda, a todos - esses reflexos que não lhe pertencem. Mas então fecha os olhos e uma dúvida surge em sua mente - E se eu sou o reflexo?

Levanta-se e baixa os braços quando os reflexos os abrem, e lança a perna à frente quando eles as lançam para trás. Um deles volta-se para ela, o olhar questionador. Ela reflete um sorriso sem graça, corrige os movimentos. Um erro, um engano - só para ter certeza. 

C.C.