Busca
Era noite ainda, os postes de iluminação estavam acesos. Ele andava pela rua deserta arrastando sua mochila pelo chão. Estava cansado, seu corpo doía e sua mente parecia querer explodir dentro de sua cabeça. O que havia feito? Onde havia se perdido? em que momento deixara tudo para trás e embarcara naquela aventura louca, em busca de respostas que nunca seriam encontradas.
Parou em baixo de um poste e ficou olhando algumas mariposas voejando em volta da luz. Sentou-se no meio fio, puxando a mochila para perto do corpo. Estava praticamente vazia, não restara mais nada para ele, a não ser aquela sensação de impotência, de perda, um vazio imenso dentro de si. Olhou para os lados, para a rua onde crescera, estava tudo mudado, não reconhecia nada. Duvidava que alguém ainda fosse capaz de reconhecê-lo também, ele mesmo tomara um susto ao olhar-se no espelho, não era mais o seu rosto, não eram os seus olhos, não era ele.
Quanto tempo? Pensou, enquanto fitava o reflexo de um homem que não conhecia e tentava aceitar que fosse o seu próprio. Não sabia dizer... Tempo. Anos, dias, meses... Poderiam ter sido séculos e ainda assim não faria sentido. Nada fazia sentido agora. ele saíra em busca de uma resposta, sem estar certo da pergunta, sabendo que nunca a encontraria, e isso o mantinha vivo, ele tinha um propósito. Nunca imaginou que pudesse empenhar-se tanto, nunca antes dera atenção a qualquer coisa, a qualquer um.
Olhando-se no espelho ele soube o que fazia com que parecesse outra pessoa, um ser completamente diferente do que ele era, completamente diferente de qualquer homem sobre a terra.
Empenhara-se tanto, buscara tanto, e agora o peso da resposta curvara seus ombros e apagara o brilho de seus olhos. Não tinha para onde ir, nunca tivera de fato um lar, então colocou a mochila nas costas e deixou que seus pés o guiassem. E ali estava ele agora, sentado no meio fio, em frente à sua antiga casa, que agora era um prédio comercial.
Uma nuvem moveu-se no céu e a luz do luar iluminou o chão.
- Sem propósito. - Disse com a voz rouca. Olhou para o céu, estava nublado.
- Sem propósito algum.
Levantou-se, ainda encarando a lua.
- O que eu faço agora? - Tinha adquirido o hábito de conversar com o astro que o guiara durante tantas noites em sua jornada.- Não tenho casa, não tenho família, amigos, dinheiro, nada.
- Mas você tem a resposta. - Era aquela voz zombeteira novamente, que ele resolvera chamar de consciência.
- Vá para o inferno!
- Não era o que você queria? A Resposta?
- Deixe-me em paz...- Caiu de joelhos.
- Vou te dizer o que você deve fazer...
- Cale a boca! Não quero ouvir nada...
- Mais do que a resposta, você tem o conhecimento. Se não há mais caminho para percorrer, pare. Pare e olhe à sua volta. veja agora o mundo, com os olhos de quem sabe.
- O que ganho com isso?
- E o que ganhou com sua jornada? O vazio? O tédio? Que prêmio você conseguiu?! Pare!
Há um mundo novo surgindo diante de seus olhos, contemple-o, converse, chore se quiser chorar. Agora você pode ser quem você é.
- Quem sou... Eu não sei quem sou. - Disse com voz amargurada.
- E é por isso que sua jornada não te levou a lugar nenhum. Agora você sabe o que deve procurar, e é você mesmo.
Uma lágrima desceu por sua face, ele a provou com a língua.
- Salgada.
Levantou-se. Pela manhã encontraria um novo mundo, um mundo que veria pela primeira vez com seus novos olhos, olhos de quem não sabe quem é, e que não se importa se levar a vida toda para descobrir.
C.C.
TT_TT Me entristeceu, esse texto, de alguma forma... Gosto desses "fragmentos", sem passado ou futuro... Eu sempre fico com a impressão de que tem muito além do que eu entendi, envolto por cortinas que não irão se erguer. ^^ O que imagino que é justamente o objetivo... o_o
ReplyDeleteAh, e cau, sem querer intrometer, mas acho que no primeiro parágrafo combinaria uma interrogação... O que você acha?