Sentada à beira mar, o som dos pássaros marinhos ecoavam por toda parte. A serenidade em seu rosto era somente uma máscara, um disfarce que assumira sem ao menos perceber que o fizera. Haveria um lugar, algum dia, onde o por do sol pudesse finalmente significar algo mais que um refúgio?
Andara por toda a extensão da praia e sentara-se ali, ali onde o sol tocava o mar ao dar lugar à noite que se aproximava. Ali onde tantas vezes assumira o mesmo ar de serenidade enquanto tentava encontrar um abrigo, uma solução, um milagre. E seus pensamentos espalhavam-se pela praia, suas tristezas, sua luta, seu desespero, sua razão, sua esperança. Às vezes imaginava que as gaivotas davam rasantes sobre seus pensamentos, tentando pescá-los, tentando levá-los para algum lugar onde o sol ainda pudesse iluminá-los. Às vezes uma lágrima escapava, outras tantas um sorriso.
Quando se está tão focado em algo ou alguém, o mundo parece perder o sentido e não percebemos a solidão que aos poucos nos cerca. Não percebemos as horas correrem, não percebemos os dias chuvosos, não percebemos as noites de lua cheia, porque tudo, tudo, nos lembra o algo, ou o alguém. Tudo parece nos aproximar ainda mais daquilo que desejamos, como se todo o universo tivesse sido criado só para nos lembrar de sua existência.
Como as gaivotas, que a faziam lembrar do riso, ou o brilho alaranjado do sol contra o mar, que a fazia lembrar de seus olhos, ou o céu rosado, ou o barco que fazia seu caminho vagarosamente, guiado pela brisa... A brisa a fez lembrar do dia em que a tempestade caíra sem aviso sobre eles, e o vento bagunçara os cabelos negros, e de repente não havia mais nada, só os olhos dela nos dele, só...
Era como se tudo estivesse conectado e de repente, sem aviso, o fim.
Mas as gaivotas continuariam dando seus mergulhos certeiros, a brisa continuaria guiando o pequeno barco à vela, o sol continuaria se pondo, e a noite continuaria voltando. E não haveria mais "nós".
C.C.