Quarto Escuro
Escuro. Ela podia sentir a vida que nascia nas ruas, podia sentir o sol infiltrando-se pelos poros do quarto frio, mas não havia luz. Levantou-se, pôs os chinelos e foi até a janela. Ela a abriria, e mesmo esperando sentir o calor do sol tocando seu rosto, sabia que só veria uma parede escura coberta por limo e sentiria o vento gelado cortando sua face. Era só o que precisava para despertar.
Inspirou o ar gélido, trocou o pijama por uma calça de couro e uma camisa impecavelmente branca. Pôs o colete preto, pegou o relógio de bolso, deu corda, e colocou-o no bolso do colete. Pôs o coldre em volta da cintura e colocou uma pistola em cada lado, pegou mais duas pistolas, menores, e escondeu dentro das botas de cano alto. Pôs o sobretudo de couro longo, o chapéu e então parou em frente à porta do quarto. Antes de sair inspirou profundamente, tocando a maçaneta. Talvez tivesse virado um hábito, ou talvez fosse realmente necessário. Enquanto inspirava, os olhos fechados, juntava forças e o que mais fosse preciso para sair, para ver o mundo, para continuar vivendo.
Já não se perguntava mais, os fantasmas pareciam estar cada vez mais quietos, presos a um passado que já não lhe dizia respeito, era só essa espécie de anestesia, como se o mundo à sua volta não fizesse parte dela, e ela não fizesse parte deste mundo.
C.C.
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