8/28/2010

Ninguém, nem mesmo a chuva...

Nenhum lugar em que nunca estive, alegremente

além de qualquer experiência, teus têm o silêncio;

no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,

ou que não ouso tocar porque estão demasiado perto.


Teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra

embora eu tenha me fechado como dedos,

você me abre sempre pétala por pétala como a Primavera

abre (tocando sutilmente, misteriosamente) sua primeira rosa.


Ou se você quiser me ver fechado, eu e 

minha vida nos fecharemos belamente, de repente,

assim como o coração desta flor imagina

a neve cuidadosamente descendo em toda parte;


Nada que possa perceber neste universo iguala

o poder de tua imensa fragilidade:

cuja textura complete-me com a cor de seus continentes, 

constituindo a morte e o sempre cada vez que respira.

(não sei o que há em você que fecha

e abre; só uma parte de mim compreende que nas

vozes de teu olhar cabem todas as rosas)

ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas.


E.E. Cummings


C.C.

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