7/13/2008

lá fora

Há uma imagem
Gravada em minha mente
Posso vê-la ao fechar os olhos
Mas não é preciso.

E não há cores
Ou rostos.
Só o espectro,
do que deveria ter sido.

C.C.

Contos do Reino das trevas

Início

Vejo minha alma projetada no céu.
Minha mágoa invadindo o mundo.
A escuridão que domina, se alastra por todo lugar.
Não há esperança para o traidor, assim como não houve esperança para o enamorado.
Condenas a mim, tu, que jogou o coração aos pés da donzela prometida, e dizes que sou o causador do caos.
Talvez o seja. Mas sempre soube qual era o meu lugar. Ao seu lado, fitando seus olhos e admirando seu sorriso. Tão lindo... Como a noite em tempos de paz, quando o sol beijava a areia no horizonte e todo o céu se transformava em tons de violeta e rosa. Ela tinha meu amor, sempre o teve, sempre o terá. Mas enamorou-se do rapaz de olhos cristalinos e cabelos castanhos. Nunca tive o coração de minha amada, embora tenha zelado por ele.
Tu não te importastes com o que era certo ou errado.
Se sou o culpado do caos, foi por cometer o mesmo crime que tu: Amar de mais. Amei tanto, que deixei de me importar com certo, errado, mitos e lendas. Amei tanto, que entreguei meu coração sem pestanejar, mesmo sabendo que meu peito teria ali um lugar vazio... Não receberia nada em troca.
Por esse amor sacrifiquei tudo que tinha, ou julgava possuir. Por esse amor joguei o orgulho na lama e entreguei minha alma à escuridão.
Dizes que sou o culpado.
Serei para sempre o condenado.
Tu me condenas ao inferno, mas saibas que não há martírio maior que a perda... Eu a amava, a amarei para sempre! E tu viverás no inferno, tanto quanto eu... Esse é meu único consolo.

C.C.

7/09/2008

Era por ser assim

Era por ser assim
Ou por querer qualquer coisa
Era por estar aqui,
ou por querer estar perto...

Não sei direito,
às vezes penso nisso.
No que era
No que foi
o que deveria ter sido...

Sei que o desespero é certo
Tão certo quanto a morte.
Sei que rezar não adianta nada
Que o pesadelo é real,
Nenhuma cruz o fará desvanecer.

Sinto essa espécie de ódio
ou raiva, não sei...
E é como se tivesse esquecido -
Mas só quando a luz está acesa.

Então apaguem o dia!
A lua brilha solitária,
em meio a um mar de estrelas...
Como seus olhos...
Também eles brilham solitários
Em meio a essa massa
de olhares opacos.

Não há olhos que brilhem como os seus...
Não há ódio que me afaste de ti.
Não há dor que me faça mais triste...
Não há esperança
que me faça sentir,
que você existe, só para mim.

C.C.

A Última Valsa

Por certo
perdi o juízo
E vejo estrelas
no céu em chamas

Vejo lágrimas
no espelho
e fotos
jogadas ao vento

Não há o hoje
quando perde-se
o ontem
Não há futuro.

A torre negra caiu
O anjo negro dançou
Era a valsa da derrota
A valsa da dor...

Eu via seus olhos
Via o medo
Vi tudo
e nada...

E ele dançava
como um rei
sem sua rainha

A valsa da perda
a valsa perdida

Ele dançava
girava na noite
sobre o sangue
sobre os ossos

Asas brancas
para uma alma negra.

Não há justiça
na guerra
Não há justiça
na morte

Valsa de despedida...

O corpo frio
banhado em sangue
valsava
loucamente

Valsa de despedida...

Uma alma
uma vida.

Não há razão.
Fomos todos condenados...
Mas só um perdeu a vida.
Um vendeu a alma.
O outro, vendeu o juízo.

Valsa de despedida

Chamas
lágrimas
sangue
música

A luz foi extinta
Rei sem rainha
amante sem amada.

Não há graça
ou beleza
na valsa
da destruição.

C.C.

7/06/2008

Contos do Reino das trevas

Prelúdio...

Seu corpo movia-se acompanhando a música. Os olhos fechados, ela tinha noção dos olhares que a acompanhavam, alguns admirados, outros cheios do mais puro desejo.
Ela acompanhava as batidas do tambor, era como se a música invadisse seu ser. Como se a música emanasse de seu corpo e sua alma tentasse fugir através de seus movimentos. A música falava ao seu coração: o passado, presente e futuro.
O véu escondia seu rosto, girava em suas mãos, rodopiava através de seu corpo. O ritmo aumentou e seu corpo agitava-se cada vez mais rápido, acompanhando o compasso da música. Palmas, vozes, tambores, flautas, misturado ao cheiro de suor, vinho e dos incensos invadiam sua mente.
A fonte seca, o menino de olhos cristalinos, o sol encoberto por nuvens negras, olhos verdes em chamas e lágrimas, trovões, um clarão, trevas...Um grito alto e desesperado...
- Não! Não!
- Amnis, está tudo bem! Hamom a segurava nos braços e acariciava seu rosto. Está tudo bem agora...Acho que você se empolgou um pouco com a música. Seu olhar parecia preocupado, mas sorria enquanto a ajudava a levantar-se.
- Hamon...Amnis fitava o rosto sorridente de seu amigo.
"Foi horrível..."
- O que? Hamon ficou sério enquanto a encarava nos olhos.
- Eu vi...Amnis desviou o rosto do olhar intenso que a fitava. Acho que o vinho não me fez bem. Amnis soltou a mão de Hamom e se afastou da multidão que já voltara a dançar e a tocar. Hamom sentou-se em uma almofada e ficou observando enquanto Amnis ia embora.

C.C.

7/05/2008

Norte

Corria em direção ao norte
Sempre a favor do vento
De olhos fechados
e coração aberto.

Corria em direção ao norte
Não o norte que conhecemos
Só possuía sua esperança
Na busca da vida, um sentido.

Esbarrar em adversidades
Superar mil obstáculos
Sempre os olhos fechados
E o coração aberto.

Não encontrou
Nunca, em nenhum momento
O que sequer parecesse
Com o objeto de sua busca.

O homem corria
Sempre e cada vez mais
em sua busca tardia,
À procura do amor.

Corre sempre
Corre ainda
Não desiste nunca
De achar o norte de sua vida.

C.C.

7/02/2008

Não há onde

Corre, por que não há nada que te mantenha a salvo.
Corre, por que quando olha para trás, só vê desespero.
Corre, sem destino, sem pátria.
Corre...Perde-se no mundo, seu mundo, não há lugar para você.
Não há lugar dentro ou fora.
Não há caminho que te leve à salvação, não há luz que te liberte da escuridão, sonho?
Corre, se ficar, será banido.
Corre, se chorar, será condenado.
Corre, até ganhar asas.
Corre.
No horizonte está teu perdão.
Corre.
Nas alturas está tua salvação.
Corre.
No abismo...Tua libertação.

C.C.

Contos do Reino das trevas

O condenado

Ele fugiria com ela, ela o amaria para sempre.
Seriam felizes, por que se amavam, por que um sempre esperou pelo outro, e quando se encontraram, todo o resto desapareceu.
Não existia mais nada.
Não existia mais ninguém.
Não existia...

Mas havia uma pessoa...Uma pessoa que morreria, assim que eles dissessem adeus ao resto do mundo e desaparecessem para viver seu amor em liberdade.
Uma pessoa que já há muito esperava por essa partida, e preparava seu coração para o fim. Uma pessoa que sabia estar chegando a hora de sua morte. Uma pessoa que morreria por amor.

Ele trairia seu mundo, arriscaria sua vida e entregaria sua alma. Já não havia nada, sem ela.
Para vê-la feliz, ele colocaria seu mundo eternamente nas trevas...
Seria possível que outro a amasse tanto assim?
Mas eles se amavam, e fugiriam, e ele morreria.
Era para ser assim, estava escrito que seria assim.

E como não havia outra escolha, como ela amava outro com toda sua alma - assim como ele a amava - então ele faria com que se cumprisse o destino.
Por amor, jogaria seu nome na lama e seria lembrado como o homem que condenou seu povo à escuridão.
O inferno parecia pouco frente a possibilidade de ficar, eternamente, longe da mulher que amava.
Para sempre, ele não teria paz, e ela, sorriria por toda eternidade.

Era para ter acontecido dessa forma. Mas quem sabe do destino?
Quem pode ter certeza do que irá acontecer amanhã?
Tudo perdido...
Só uma coisa realmente aconteceu como ele previra...
O reino das trevas começou no dia em que ele traiu seu povo.
E o inferno...Ele descobriu o que era o inferno, mesmo sem perder a vida.
Longe dela, num mundo escuro, ele foi condenado. Sua imortalidade era o único inferno que conheceria. Um castigo cruel, para quem só queria manter vivo - para sempre - o sorriso de quem amava.

C.C.