3/04/2009

Reflexos

Ele queria gritar, sentir saindo de sua garganta e explodindo para o mundo que o cercava toda sua frustração e ressentimento, seu pavor e sua espera, inutil...
Em um som rouco e alto que rasgasse a madrugada e acordasse mundo, ele queria depositar sua ultima nota dissonante. Queria que fosse o fim, e que todos soubessem que era o seu fim, e que não havia mais nada, depois dele, nada... Se alguém alguma vez já o tivesse amado, admirado, respeitado... Então só essa pessoa sofreria ao som deste ultimo urro enfurecido, sem esperança. Só essa pessoa... Mas ele sabia que era tudo uma ilusão, ninguém lamentaria, ou sofreria, choraria por ele.
Ele estava inteiramente só, era uma ilha, prestes a afundar. A ser esquecida para sempre.

O grito ficou preso. Relaxou seu rosto, os olhos desviaram para algum ponto inanimado. Somente seus punhos cerrados demonstravam que o homem sentado naquele banco de onibus não estava distraído, como aparentava, ele estava desesperado, enfurecido, amedrontado, morto. As unhas penetrando a palma da mão... O grito ganhando vida no sangue que escorria quando a carne não resistiu à pressão. O grito que ecoava em sua mente, e que não representava nada, para o 'mundo lá fora'.

C.C.

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