Frio e chuva. Meus olhos tentam se acostumar com a luz clara que aos poucos tira o foco de tudo à minha volta. Outro flash. Uma mão aperta meus ombros e ajeita minha postura. "Seu olhar parecia perdido, estava ótimo." Um sorriso, meus olhos piscam discretamente, agora aos poucos posso ver o sorriso que ele me lança, largo e encorajador - seus olhos continuam frios. Apenas mais uma modelo, apenas mais um trabalho, apenas mais um. Inclino meu corpo para frente, fingindo tocar o chão coberto de folhas alaranjadas. Outono. "Ela parece doente." Sim, sinto-me fraca e um pouco tonta, mas quem se importa? Quem se importa com os sussurros que chegam com o vento? Quem se importa com a chuva que escorre sobre minha pele, penetrando em meus ossos? "Agora olhe para a câmera, isso, assim, excelente!" Novamente a luz, a perda de foco, e o frio, e a chuva.
O céu está claro, muito claro, embora a chuva continue impiedosamente. Escorrendo pelo vidro do carro, os pingos formam padrões estranhos, imagens incertas, seria o rosto de sua mãe fitando-a ali, no canto? "Sim, sim, estou melhor, obrigada." Outro sorriso. Seriam os seus sorrisos tão falsos quanto os do fotógrafo de antes? Provavelmente. Ela não se importava muito. Não se importara, agora parecia uma informação extremamente relevante sobre si mesma. Porque? Talvez o frio dos olhos estivesse aos poucos derretendo afinal. O calor penetrando em sua mente, descendo até chegar ao peito, queimando, provocando-lhe um aperto no estômago. E subindo novamente, até chegar aos seus olhos e começar a escorrer na forma de lágrimas, escorrendo como lava. E ela não conseguia mais parar. Seu corpo todo tremia, suas mãos permaneciam inertes sobre o colo, não havia forças para levantá-las. E de repente ela sentiu como se todo seu corpo estivesse derretendo, e os olhos de sua mãe a fitavam, quietos, serenos, no canto da janela.
C.C.
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