6/24/2010

No Centro




É uma ilha. As pessoas passam por ela, mas ninguém a vê. E apesar do barulho, o silêncio parece agradável. Um lugar para ficar a sós consigo mesmo - não para ficar sozinho. Um lugar onde o verde cresce, pois esqueceram-se que ele existe, onde as árvores crescem, pois as esqueceram também. Um lugar onde o vento toca levemente as folhas no alto das copas das árvores, onde os pássaros aparecem só de passagem. As vozes são trazidas pelo vento, passam por corredores escuros, corredores antigos, paredes que já viram mais pessoas e ouviram mais vozes do que podemos imaginar só de olhar pára elas. Se alguém olhasse.
Flores, vento, pássaros, vozes, pessoas, verde - silêncio.
A ilha que ao ser ignorada até por seus próprios moradores, esqueceu que está viva, e por pensar-se morta, deixa que a vida passe ilesa por ela. Sinais de morte são as ruínas que se formam a cada dia. São os insetos que a invadem, o mofo que a decora.
Estou no meio desta ilha. No centro de seu coração silencioso e inerte, num dia de outono. Hoje ouvi a ilha, hoje tornei-me a ilha, e sinto sua desolação e sua ruína, sou a ruína e a desolação. Posso sentir os milhares de passos que a pisaram, posso ouvir as milhares de vozes que nos seus corredores falaram. Mas dentro do centro - silêncio. E dentro do meu peito - silêncio.
Mas minha alma agita-se como agita-se a vida que outrora existiu na ilha. A memória traz o caos, o presente: a inércia.

C.C.

No comments:

Post a Comment