7/22/2010

Entre papéis e caixas...

Uma mudança. Sempre que fazíamos uma mudança eu reencontrava velhos papéis e agendas, reencontrava velhos bilhetes, cartas, desenhos. Mas compramos uma casa e as mudanças pararam. As cartas e os bilhetes permaneceram guardados em algum canto do guarda roupa, dentro de alguma caixa, junto com as lembranças.

Mas o velho guarda roupa tinha que ser substituído, e seus segredos tiveram que ser novamente expostos. Sempre ficava com aquela sensação de nostalgia quando colocava tudo pra fora em alguma das inúmeras mudanças que fizemos, mas desta vez fui colocando tudo pra fora, amassando papéis que guardara durante anos, provas, cadernos, apostilas, tudo indo direto para o lixo. Até que no meio de tanta quinquilharia, que eu não parava de perguntar pra mãe: Porque eu guardei isso?!E ela me olhava com cara de "eu que te pergunto",  encontrei o que sobrou da minha coleção de papéis de carta. Fiquei ali segurando os dois últimos remanescentes do que outrora havia sido uma coleção de fato. E então eu senti novamente. E fiquei me perguntando se ainda havia alguma garota de sete a dez anos que ainda colecionava papéis de carta, ou melhor, se ainda existiam papéis de carta para se colecionar. Lembrei das vezes que ia na papelaria escolhê-los, das trocas entre as garotas na escola... Naquela época... papéis de carta, pular elástico, pega-pega, esconde-esconde... As meninas ainda pulam elástico?

Enfim, depois destas divagações não pude mais simplesmente ir jogando os papéis aleatoriamente no lixo. Então chegou a vez das agendas e dos diários, e encontrei bilhetes de quando estava na quinta, sexta série. Recados das amigas de infância... Bons tempos... E recados das amigas da adolescência, estas que posso rever se pegar o telefone e marcar alguma coisa. Estas ainda estão ao meu alcance. Mas é inevitável você ler tais papéis e não perceber como se está diferente, ainda que pareça a mesma. Os recados não mudaram muito das amigas de infância para as amigas da adolescência: Você é uma grande amiga; Continue sempre assim; Espero que nossa amizade não morra... Não morreu. Posso não vê-las mais, mas o carinho que sentia por elas permanece o mesmo, a saudade que senti quando revi os bilhetes pôde me dizer isso.

Fico feliz de ser essa pessoa que guarda de tudo. Nem sabia que havia guardado bilhetes do meu namorado de infância, mas estava lá. É uma sensação engraçada, mas boa. Talvez seja por isso que ainda guarde até os papéis de bala que meus amigos me dão como recordação. Eles dão risada na hora, dizem para eu jogar fora, mas eu guardo, porque algum dia vou abrir uma velha caixa, e ele vai estar lá, e vou lembrar daquele dia, daquelas risadas, e vai ser bom, vai ser muito bom lembrar dos amigos que tive, e dos que ainda estarão ao meu lado.

Eu tinha essa teoria, de que a amizade é o tipo de amor mais puro que podemos ter, e por isso devemos cuidar muito bem dos nossos amigos. Foi bom relembrar os velhos tempos, para lembrar desta teoria.

Depois de tanto tempo posso dizer que a amizade não morre, não quando ela foi bem cuidada durante o tempo em que foi forte e viva. Por que mesmo depois de anos, se você lembrar de uma pessoa que foi muito importante e sentir sua falta, então a amizade não morreu, porque o amor nunca morre.  

Amo-vos.

Cc.

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