O Forasteiro
Ele estava se sentindo estranho, o suor começava a escorrer pelas têmporas, o ar abafado, aquele silêncio... Insuportável... Opressor. Aquelas pessoas de olhar vago, perdido, como se não tivessem vida. O balanço das rodas, o cheiro da morte.
Ajeitou a gola da blusa, enxugou o suor do rosto, ensaiou um sorriso para uma garotinha que o estava encarando, nada. Somente aquele olhar vazio como resposta.
E o suor, que agora saia por todos os poros, seu coração começou a bater descompassado, suas mãos tremiam e aquele sentimento, uma fúria inexplicável começava a crescer dentro dele. Olhou para os lados, para aqueles olhos sem brilho, para aqueles corpos imóveis, o ódio crescendo dentro dele, e as mãos, não conseguia parar de tremer. Medo. Junto com o ódio veio o medo, e não havia razão alguma, motivo nenhum... Suas mãos cresceram, seus olhos dilataram, e de repente não podia mais controlar seus sentimentos. Um grito, alto, rouco, profundo. Tudo aquilo queria sair de dentro dele, as pessoas o olharam assustadas, finalmente havia alguma expressão naqueles rostos, mas ele não percebeu isso.
Pulou na carroça, correndo, apoiva-se nas mãos e nos pés, como um lobo, e corria, sem parar, cada vez mais rápido, não sabia por que. Simplesmente fugia, e urrava, avançava nas pessoas como se elas fossem uma ameaça, mas não eram, e ele tinha medo, por que não sabia o que estava acontencendo, não sabia para onde estava indo, ou para onde queria ir, e corria, sem parar. E aquele sentimento, o medo e a fúria, cresciam dentro dele. A chuva fustigava seu rosto, molhava seus cabelos, suas roupas, ele escorregava, então cada vez mais rápido, e com mais força, ele apoiava as mãos no chão a as arrastava.
Não havia explicação, não havia passado ou presente, nem uma razão para sua existência. Só a fuga, e a chuva.
Conseguiu se jogar para dentro de um portão, arreganhou os dentes afiados para uma mulher e uma criança, mas teve medo de atacar, então continuou correndo, por entre as prateleiras, fugindo, chorando.
Finalmente começou a se acalmar, escondeu-se atrás de um pilar e ficou lá, arfando. Começou a recuperar a cosciência, suas mãos pararam de tremer, seus olhos voltaram ao normal, e as lágrimas cessaram.
Não era a primeira vez, e não seria a última.
Ele não sabia por que, não podia controlar, não podia escapar desta metamorfose absurda.
Não havia um lugar seguro.
Aquele reino, era de longe o melhor lugar para se estar. Pelo menos ali, com aqueles seres sem vida pelas ruas, ele podia andar livremente quando estava bem, e não ser perseguido.
C.C.
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